Como começo, permitam-nos uma recapitulação da lista dos
serviços regulares de longo curso que a Imperial Airways pôs a funcionar,
entre 1929 e 1932, com origem em Londres
- Para a ÍNDIA, Karachi (30 Março/6 Abril 1929)
- Para a AUSTRÁLIA, Sidney (26 Novembro/16 Dezembro 1931)
- Para a ÁFRICA CENTRAL E DO SUL, Cape Town (20 Janeiro/2
Fevereir 1932)
Cabe também lembrar que o segmento europeu destas três
carreiras era exactamente o mesmo.
Estamos a falar da chamada "via da Europa
Central": LONDRES / Paris / Nuremberg / Viena / Budapest / Sófia /
Salónica / ATENAS.
Dito assim, é fácil perceber que o aeroporto de Atenas,
voltado simultaneamente para a Europa e para a África e o Oriente, funcionava
como placa giratória para o intenso tráfego aeropostal que ali convergia, e
dali divergia.
Mais, especificando a linha Londres/Cape Town – ai é que
está a causa e a consequência deste trabalho... – anote-se que o percurso
africano acompanhava a "via do Vale do Nilo", que segue: ATENAS
/ Alexandria / Cairo / Assouan / Wadi Halfa / Khartoum / Malakal / Juba /
Butiaba / Kisumu / Nairobi / Dodoma / Mbeya / BROKEN HILL / Salisbury /
Johannesburg / CAPE TOWN.
Assegurada a operação semanal para a África Central e do
Sul – viagem de aproximadamente 14 dias ! – foi anunciada, em meados de
1943, a abertura duma linha Tanararive (Madagáscar) / Broken Hill (Rodésia do
Norte), com rota por Moçambique necessariamente, a cargo da novel companhia
Régie Air Afrique.
Tratava-se nem mais nem menos do que a fascinante
possibilidade de, com uma correcta concordância de horários IA/RAA em Broken
Hill – plataforma privilegiada para movimentar o correio aéreo africano –
estabelecer também um serviço regular para a ÁFRICA ORIENTAL.
Não é de estranhar, portanto, que em 6 de Junho de 1934, o
Correio grego tenha formado as primeiras malas-avião endereçadas às novas
escalas (Tete, Quelimane e Majunga) e ao destino malgache (Tanararive).
Observe-se nas Fig. 1 e 2 uma carta bem significativa — e
interessante de seguir.


Registada em 5 de Julho pelo conhecido filatelista e
comerciante Pantelis Drossos na estação do aeroporto de Atenas, seguiu no dia
imediato para Broken Hill no avião da Imperial, onde chegou no dia 12, isto de
acordo com o plano de viagem da IA, e se presume ali ter sido transferida para o
prenunciado voo da RAA.
As grandes certezas são só duas: o carimbo especial
aplicado nas correspondências que aproveitaram a primeira expedição
"PREMIER COURRIER AÉRIEN GRECE-AFRIQUE ORIENTALE PORTUGAISE" e a
marca de chegada, reservada aos registos, "QUELIMANE - 16 JUL. 1934"
bem visível no verso.
Aqui chegados, e numa apreciação rápida com todos os seus
riscos, nada mais havia a acrescentar – e ficava o recado dado...
Estava o assunto neste pé, quando, recentemente,
encontrámos no Catálogo da Aerofilatelia grega que se reproduz na Fig. 3, um
informe novo e "revolucionário" : a mala-avião destinada a
Tanararive só chegou ao seu destino em 4 AGOSTO!

Este não é um dado menor e de circunstância.
Uma vez que, em bom rigor, prova que afinal em Broken Hill,
em 12 Julho, não se deu a prevista conexão IA/RAA, e o correio para
Moçambique teve de ser expedido por caminho de
ferro : Quelimane (c. 16 Julho) e Tete (c. 20 Julho).
Torna-se evidente que a Régie não esteve no sitio certo à
hora certa!...
Uma casualidade que não custa a acreditar, nos anos
pioneiros de 30.
E é corroborada pelo catálogo descritivo e histórico do
amigo Pierre Saulgrain